Conhecendo os Poetas.
Fernando António Nogueira Pessoa (
Lisboa,
13 de Junho de
1888 — Lisboa,
30 de Novembro de
1935), mais conhecido como
Fernando Pessoa, foi um
poeta e escritor
português.
É considerado um dos maiores poetas da
Língua Portuguesa, e o seu valor é comparado ao de
Camões.
( Luís Vaz de Camões (c.
1524 —
10 de Junho de
1580) é frequentemente considerado como o maior
poeta de
língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de
Virgílio,
Dante,
Cervantes ou
Shakespeare; das suas obras, a
epopéia Os Lusíadas é a mais significativa.)
O crítico literário
Harold Bloom considerou-o, juntamente com
Pablo Neruda, o mais representativo poeta do
século XX. (
Harold Bloom (
Nova Iorque,
11 de julho de
1930) é um professor e
crítico literário estadunidense. O professor ficou conhecido como um
humanista porque sempre defendeu os poetas
românticos do
século XIX, mesmo num tempo em que suas reputações eram muito baixas.) e
(Pablo Neruda (
Parral,
12 de Julho de
1904 —
Santiago,
23 de Setembro de
1973) foi um
poeta chileno, um dos mais importantes poetas da
língua castelhana do
século XX, e
cônsul do
Chile na
Espanha (
1934-
1938) e no
México.).
Por ter vivido a maior parte de sua adolescência na
África do Sul, a
língua inglesa também possui destaque em sua vida, com Pessoa traduzindo, escrevendo, trabalhando e estudando no idioma.

Teve uma vida discreta, em que atuou no
jornalismo, na
publicidade, no
comércio e, principalmente, na
literatura, onde se desdobrou em várias outras personalidades conhecidas como
heterónimos.A figura
enigmática em que se tornou movimenta grande parte dos estudos sobre as suas vida e obra, além do fato de ser o centro irradiador da
heteronímia, auto-denominando o autor um "drama em gente".
Para saber um pouco mais:
Heteronímia[1] (
heteros = diferente; +
ónoma = nome) é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de
pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade. O criador do heterónimo é chamado de "
ortónimo". O maior e mais famoso exemplo da produção de heterónimos é do poeta português
Fernando Pessoa, criador de
Ricardo Reis,
Álvaro de Campos e
Alberto Caeiro, além de outros de menor importância e do semi-heterónimo
Bernardo Soares.
Sendo assim, quando o autor assume outras personalidades como se fossem pessoas reais.
Heteronímia (2) - desinência de gênero, em que o caso masculino e o feminino são representados por vocábulos completamente diferentes. Ex: homem - mulher; bode - cabra.
QUEM É RICARDO REIS?
Ricardo Reis (1887 - ?) é um dos três heteronimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Nascido na cidade do Porto. Estudou num colégio de jesuítas, formou-se em medicina e, por ser monárquico, expatriou-se espontaneamente desde 1919, indo viver no Brasil.
QUEM É ÁLVARO DE CAMPOS?
Álvaro de Campos (1890 - 1935) é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Este fez uma biografia para cada um dos seus heterónimos e declarou assim que Álvaro de Campos : «Nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Agora está aqui em Lisboa em inactividade.»
Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo. Pessoa disse também em relação a este heterónimo que :
 | Eu fingi que estudei engenharia. Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda. Meu coração é uma avozinha que anda Pedindo esmolas às portas da alegria. Opiário!!
-
- Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro
- É antes do ópio que a minh'alma é doente.
- Sentir a vida convalesce e estiola
- E eu vou buscar ao ópio que consola
- Um Oriente ao oriente do Oriente.
- Esta vida de bordo há-de matar-me.
- São dias só de febre na cabeça
- E, por mais que procure até que adoeça,
- já não encontro a mola pra adaptar-me.
- Em paradoxo e incompetência astral
- Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
- Onda onde o pundonor é uma descida
- E os próprios gozos gânglios do meu mal.
- É por um mecanismo de desastres,
- Uma engrenagem com volantes falsos,
- Que passo entre visões de cadafalsos
- Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
- Vou cambaleando através do lavor
- Duma vida-interior de renda e laca.
- Tenho a impressão de ter em casa a faca
- Com que foi degolado o Precursor.
- Ando expiando um crime numa mala,
- Que um avô meu cometeu por requinte.
- Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
- E caí no ópio como numa vala.
- Ao toque adormecido da morfina
- Perco-me em transparências latejantes
- E numa noite cheia de brilhantes,
- Ergue-se a lua como a minha Sina.
- Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
- Não faço mais que ver o navio ir
- Pelo canal de Suez a conduzir
- A minha vida, cânfora na aurora.
- Perdi os dias que já aproveitara.
- Trabalhei para ter só o cansaço
- Que é hoje em mim uma espécie de braço
- Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.
- E fui criança como toda a gente.
- Nasci numa província portuguesa
- E tenho conhecido gente inglesa
- Que diz que eu sei inglês perfeitamente.
- Gostava de ter poemas e novelas
- Publicados por Plon e no Mercure,
- Mas é impossível que esta vida dure.
- Se nesta viagem nem houve procelas!
- A vida a bordo é uma coisa triste,
- Embora a gente se divirta às vezes.
- Falo com alemães, suecos e ingleses
- E a minha mágoa de viver persiste.
- Eu acho que não vale a pena ter
- Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
- A terra é semelhante e pequenina
- E há só uma maneira de viver.
- Por isso eu tomo ópio. É um remédio
- Sou um convalescente do Momento.
- Moro no rés-do-chão do pensamento
- E ver passar a Vida faz-me tédio.
- Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim,
- Muito a leste não fosse o oeste já!
- Pra que fui visitar a Índia que há
- Se não há Índia senão a alma em mim?
- Sou desgraçado por meu morgadio.
- Os ciganos roubaram minha Sorte.
- Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
- Um lugar que me abrigue do meu frio.
- Eu fingi que estudei engenharia.
- Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
- Meu coração é uma avòzinha que anda
- Pedindo esmola às portas da Alegria.
- Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
- Volta à direita, nem eu sei para onde.
- Passo os dias no smokink-room com o conde -
- Um escroc francês, conde de fim de enterro.
- Volto à Europa descontente, e em sortes
- De vir a ser um poeta sonambólico.
- Eu sou monárquico mas não católico
- E gostava de ser as coisas fortes.
- Gostava de ter crenças e dinheiro,
- Ser vária gente insípida que vi.
- Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
- Num navio qualquer um passageiro.
- Não tenho personalidade alguma.
- É mais notado que eu esse criado
- De bordo que tem um belo modo alçado
- De laird escocês há dias em jejum.
- Não posso estar em parte alguma. A minha
- Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
- O comissário de bordo é velhaco.
- Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.
- Um dia faço escândalo cá a bordo,
- Só para dar que falar de mim aos mais.
- Não posso com a vida, e acho fatais
- As iras com que às vezes me debordo.
- Levo o dia a fumar, a beber coisas,
- Drogas americanas que entontecem,
- E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
- Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.
- Escrevo estas linhas. Parece impossível
- Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
- O fato é que esta vida é uma quinta
- Onde se aborrece uma alma sensível.
- Os ingleses são feitos pra existir.
- Não há gente como esta pra estar feita
- Com a Tranqüilidade. A gente deita
- Um vintém e sai um deles a sorrir.
- Pertenço a um gênero de portugueses
- Que depois de estar a Índia descoberta
- Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
- Tenho pensado nisto muitas vezes.
- Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
- Nem leio o livro à minha cabeceira.
- Enoja-me o Oriente. É uma esteira
- Que a gente enrola e deixa de ser bela.
- Caio no ópio por força. Lá querer
- Que eu leve a limpo uma vida destas
- Não se pode exigir. Almas honestas
- Com horas pra dormir e pra comer,
- Que um raio as parta! E isto afinal é inveja.
- Porque estes nervos são a minha morte.
- Não haver um navio que me transporte
- Para onde eu nada queira que o não veja!
- Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
- Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
- Para sonhos que dessem cabo de mim
- E pregassem comigo nalgum lodo.
- Febre! Se isto que tenho não é febre,
- Não sei como é que se tem febre e sente.
- O fato essencial é que estou doente.
- Está corrida, amigos, esta lebre.
- Veio a noite. Tocou já a primeira
- Corneta, pra vestir para o jantar.
- Vida social por cima! Isso! E marchar
- Até que a gente saia pla coleira!
- Porque isto acaba mal e há-de haver
- (Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
- Deste desassossego que há em mim
- E não há forma de se resolver.
- E quem me olhar, há-de-me achar banal,
- A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
- O meu próprio monóculo me faz
- Pertencer a um tipo universal.
- Ah quanta alma viverá, que ande metida
- Assim como eu na Linha, e como eu mística!
- Quantos sob a casaca característica
- Não terão como eu o horror à vida?
- Se ao menos eu por fora fosse tão
- Interessante como sou por dentro!
- Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
- Não fazer nada é a minha perdição.
- Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
- Pudesse a gente desprezar os outros
- E, ainda que co'os cotovelos rotos,
- Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!
- Tenho vontade de levar as mãos
- À boca e morder nelas fundo e a mal.
- Era uma ocupação original
- E distraía os outros, os tais sãos.
- O absurdo, como uma flor da tal Índia
- Que não vim encontrar na Índia, nasce
- No meu cérebro farto de cansar-se.
- A minha vida mude-a Deus ou finde-a ...
- Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
- Até virem meter-me no caixão.
- Nasci pra mandarim de condição,
- Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.
- Ah que bom que era ir daqui de caída
- Pra cova por um alçapão de estouro!
- A vida sabe-me a tabaco louro.
- Nunca fiz mais do que fumar a vida.
- E afinal o que quero é fé, é calma,
- E não ter estas sensações confusas.
- Deus que acabe com isto! Abra as eclusas —
- E basta de comédias na minh'alma!
-
-
- (No Canal de Suez, a bordo)
QUEM É ALBERTO CAEIRO? Alberto Caeiro (16 de Abril de 1889 - 1915) é considerado o mestre dos heterónimos de Fernando Pessoa, apesar da sua pouca instrução. Foi um poeta ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos").
QUEM É BERNADO SOARES?
Bernardo Soares é um tipo particular dentre os heterônimos do poeta e escritor português Fernando Pessoa. É o autor do Livro do Desassossego, escrito em forma de fragmentos. O Livro do Desassossego é uma das obras maiores de Fernando Pessoa. É assinado pelo semi-heterónimo Bernardo Soares. É um livro fragmentário, sempre em estudo por parte dos críticos pessoanos, tendo estes interpretações díspares sobre o modo de organizar o livro.
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